Culto Cristocêntrico à Luz das Escrituras (2ª parte) - Ortodoxia

06/06/2012 23:55

CAPÍTULO 1

 

A reflexão aqui é: como deve ser o culto da igreja à luz das Escrituras?

Antes de se fazer qualquer afirmação, primeiro deve-se olhar como os escritores do Novo Testamento entenderam o Antigo Testamento. A carta aos Hebreus, no capítulo 5, versículos 1 a 11 contém vasto material do culto na Antiga Aliança.

Porque todo o sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados; E possa compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados; pois também ele mesmo está rodeado de fraqueza. E por esta causa deve ele, tanto pelo povo, como também por si mesmo, fazer oferta pelos pecados. E ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Arão. Assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Hoje te gerei. Como também diz, noutro lugar: Tu és sacerdote eternamente, Segundo a ordem de Melquisedeque. O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem; Chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque. Do qual muito temos que dizer, de difícil interpretação; porquanto vos fizestes negligentes para ouvir.

 

Tem-se aqui uma referência sobre a figura do sacerdote, que por sua vez é eleito por Deus e não por uma vontade própria como tendo sobre si mesmo essa honra. Essa figura sacerdotal é vista pelo escritor da epístola como sendo o próprio Jesus ou como apontando para ele. Essa referência se torna mais clara quando o escritor faz uso da pessoa de Melquisedeque para informar que o sacerdócio de Jesus é segundo a sua ordem e não mais segundo o sacerdócio Levítico.  Essa clareza de pensamentos se dá no decorrer dos capítulos da carta aos Hebreus. E, no capítulo 8, versículos 1 a 13 o que se lê é:

 

Ora, a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da majestade, Ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem. Porque todo o sumo sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; por isso era necessário que este também tivesse alguma coisa que oferecer. Ora, se ele estivesse na terra, nem tampouco sacerdote seria, havendo ainda sacerdotes que oferecem dons segundo a lei, Os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou. Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas. Porque, se aquela primeira fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para a segunda. Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, Em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei uma nova aliança, Não segundo a aliança que fiz com seus pais No dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; Como não permaneceram naquela minha aliança, Eu para eles não atentei, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que depois daqueles dias Farei com a casa de Israel, diz o Senhor; Porei as minhas leis no seu entendimento, E em seu coração as escreverei; E eu lhes serei por Deus, E eles me serão por povo; E não ensinará cada um a seu próximo, Nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; Porque todos me conhecerão, Desde o menor deles até ao maior. Porque serei misericordioso para com suas iniqüidades, E de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais. Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar.

 

Percebe-se que esta é uma visão cristocêntrica no modelo de sacerdócio do Antigo Testamento e no conceito da aliança entre Deus e seu povo. Os capítulos que se seguem, a saber, os capítulos 9 e 10 esclarecem a “alegoria” da Antiga Aliança.

O apóstolo Paulo, em sua epístola aos Colossenses, capítulo 2, versículos 16 e 17, da mesma forma, quando pontua a respeito dos cerimoniais culticos da Antiga Aliança afirma que “são sombras das coisas futuras”.

O que se pode perceber é que o olhar do Novo Testamento parte do Antigo Testamento, para revelar nas figuras e nos seus elementos cerimoniais a pessoa e obra de Cristo. Antes, porém, da formalização institucionalizada do culto no Antigo Testamento, a Escritura vai mostrar o padrão estabelecido por Deus para o verdadeiro culto.

Em Gênesis lê-se que ao pecar, o homem e a mulher perceberam que estavam nús e por conta disso se envergonharam. Entrementes, para redimirem-se de suas vergonhas “coseram folhas de figueira e fiseram para si aventais.” (Gn. 3.7).

Mais adiante, no versículo 21, o texto faz alusão de que a tentativa da “auto remissão” do homem é insuficiente para Deus. Deus então revela sua vontade quando faz para o casal “túnicas de peles”, daí a compreensão de que seria necessário o derramamento de sangue na adoração a Deus, uma vez que um animal foi sacrificado, o que também nos remete ao texto de Hebreus: “sem derramamento de sangue não há remissão.” (Hb. 9.22).

Outro exemplo interessante que revela a vontade de Deus para um culto perfeito está na história de Caim e Abel, conforme se pode perceber em Gênesis capítulo 4, versículos 1 ao 6:

 

E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei do SENHOR um homem. E deu à luz mais a seu irmão Abel; e Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante.E

 

O texto é claro quanto a aceitação da oferta de Abel em detrimento da de Caim, e, isso porque Abel entendeu que a forma de agradar a Deus era por meio do derramamento de sangue e que este apontava para o sacrifício do Cordeiro de Deus que tiraria o pecado do mundo. Ao entregar das primícias do seu rebanho, Abel estava prestando um culto que agradava a Deus, pois este – a saber, Deus – já revelara o que lhe agradara. Na entrega da oferta de Caim não há o derramamento de sangue, logo, seu culto não poderia ser aceito, porque não tinha significado “cristocêntrico” como teve o de Abel. Aprendemos então que o culto que agrada a Deus deve ser aquele que é centrado exclusivamente na pessoa de Jesus. Sendo assim, shows, entretenimentos e quaisquer outras atividades ‘culticas’ (?) que não sejam centralizadas em Jesus, ainda que sejam carregadas de boas intenções, não podem ser consideradas um culto, posto que são sacrificios terrenos e “frutos da terra”, conforme a oferta de Caim.  

Os exemplos acima apontam para o derramamento de sangue de animais e, por isso, está diretamente relacionado com o significado “cristológico” do culto. Essa prática é o que mais tarde vai fundamentar o culto formal e institucionalizado em Israel, sob a responsabilidade dos levitas.

Ao tratar do culto no Antigo Testamento, Santos (1986)[1] o classifica desta maneira: holocausto, oferta de manjares, oferta pacífica e oferta pelo pecado e pela culpa. Nesta parte da pesquisa faremos uma síntese do pensamento de Santos:

 

A ordem das ofertas:

 

Conforme se pode verificar em Levítico capítulo 6, versículos 9 a 13, o holocausto era a oferta mais constante no culto do Tabernáculo. Essa oferta era feita diariamente. Cada dia eram oferecidos dois cordeiros: um pela manhã e outro à tarde:

Dá ordem a Arão e a seus filhos, dizendo: Esta é a lei do holocausto; o holocausto será queimado sobre o altar toda a noite até pela manhã, e o fogo do altar arderá nele. E o sacerdote vestirá a sua veste de linho, e vestirá as calças de linho, sobre a sua carne, e levantará a cinza, quando o fogo houver consumido o holocausto sobre o altar, e a porá junto ao altar. Depois despirá as suas vestes, e vestirá outras vestes; e levará a cinza fora do arraial para um lugar limpo. O fogo que está sobre o altar arderá nele, não se apagará; mas o sacerdote acenderá lenha nele cada manhã, e sobre ele porá em ordem o holocausto e sobre ele queimará a gordura das ofertas pacíficas. O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará.

 

Holocausto:

 

O holocausto expressa sacrifício e é a primeira oferta do Tabernáculo. Em Levítico capítulo 1, versículos 2 e 3, temos:

 

Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando algum de vós oferecer oferta ao SENHOR, oferecerá a sua oferta de gado, isto é, de gado e de ovelha. Se a sua oferta for holocausto de gado, oferecerá macho sem defeito; à porta da tenda da congregação a oferecerá, de sua própria vontade, perante o SENHOR.

 

Harris (1998) diz que o termo hebraico é ‘olah, e a explicação usual é que a fumaça da oferta sobe ou ascende até Deus[2]. “Oferta total” ou “oferta inteira” é uma tradução que transmitiria melhor a teologia do ‘olah. Era totalmente queimada não restando nada para o homem. A característica do animal oferecido era de perfeição, entendendo com isso que o israelita deveria entregar o que fosse de valor para Deus.

 

Oferta de Manjares:

 

A segunda oferta era a de Manjares. Levítico capítulo 2, versículos 1 e 2:

 

E quando alguma pessoa oferecer oferta de alimentos ao SENHOR, a sua oferta será de flor de farinha, e nela deitará azeite, e porá o incenso sobre ela; E a trará aos filhos de Arão, os sacerdotes, um dos quais tomará dela um punhado da flor de farinha, e do seu azeite com todo o seu incenso; e o sacerdote a queimará como memorial sobre o altar; oferta queimada é, de cheiro suave ao SENHOR.

 

 O termo é Qorban Minhah, e, segundo HARRIS um minhah é uma dádiva de cereais[3]. Conforme esclarece Santos esta era a única oferta que não dependia de derramamento de sangue, isso porque ela era uma oferta feita com os alimentos do dia-a-dia e expressava gratidão pelo sustento diário[4].

 

Oferta Pacífica:

 

           

Esta era a terceira oferta, conforme Levítico capítulo 3, versículos 1 ao 2:

 

Se a sua oferta for sacrifício pacífico; se a oferecer de gado, macho ou fêmea, a oferecerá sem defeito diante do SENHOR. E porá a sua mão sobre a cabeça da sua oferta, e a degolará diante da porta da tenda da congregação; e os filhos de Arão, os sacerdotes, espargirão o sangue sobre o altar em redor.

 

O termo traduzido por “pacífico” é shelami, do verbo shalom (ser completo, estar em paz, fazer paz com). Segundo HARRIS o ritual para oferecer um shelem era igual ao do ‘olah[5]. Esta oferta tinha como significado a conquista da paz. Era, portanto, uma oferta de comunhão com Deus e com o próximo. Era uma oferta de reconciliação.

 

Oferta pelo pecado e pela culpa:

 

Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Quando uma alma pecar, por ignorância, contra alguns dos mandamentos do SENHOR, acerca do que não se deve fazer, e proceder contra algum deles; Se o sacerdote ungido pecar para escândalo do povo, oferecerá ao SENHOR, pelo seu pecado, que cometeu um novilho sem defeito, por expiação do pecado. E trará o novilho à porta da tenda da congregação, perante o SENHOR, e porá a sua mão sobre a cabeça do novilho, e degolará o novilho perante o SENHOR. Então o sacerdote ungido tomará do sangue do novilho, e o trará à tenda da congregação; E o sacerdote molhará o seu dedo no sangue, e daquele sangue espargirá sete vezes perante o SENHOR diante do véu do santuário[6].

 

Tem-se aqui uma oferta cuja característica é a expiação do pecado por ignorância. Todavia, embora essa realidade fosse “provada”, ou seja, de que a pessoa pecou por ignorância, nem por isso deixava de ser pecado. O pecado não está condicionado ao fato de se ter consciência dele ou não. Portanto não importava se a pessoa tinha consciência de seu ato, uma vez que ela é pecadora, a oferta neste caso, deveria ser oferecida.

Já a oferta pela culpa segue o seguinte critério, conforme Levítico capítulo 5, versículos 14 ao 19:

 

E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Quando alguma pessoa cometer uma transgressão, e pecar por ignorância nas coisas sagradas do SENHOR, então trará ao SENHOR pela expiação, um carneiro sem defeito do rebanho, conforme à tua estimação em siclos de prata, segundo o siclo do santuário, para expiação da culpa. Assim restituirá o que pecar nas coisas sagradas, e ainda lhe acrescentará a quinta parte, e a dará ao sacerdote; assim o sacerdote, com o carneiro da expiação, fará expiação por ele, e ser-lhe-á perdoado o pecado. E, se alguma pessoa pecar, e fizer, contra algum dos mandamentos do SENHOR, aquilo que não se deve fazer, ainda que o não soubesse, contudo será ela culpada, e levará a sua iniqüidade; E trará ao sacerdote um carneiro sem defeito do rebanho, conforme à tua estimação, para expiação da culpa, e o sacerdote por ela fará expiação do erro que cometeu sem saber; e ser-lhe-á perdoado. Expiação de culpa é; certamente se fez culpado diante do SENHOR.

           

Essa oferta era feita para aqueles casos em que a pessoa havia pecado contra Deus e o próximo. Estava relacionada à infidelidade com relação às coisas sagradas ou propriedade alheia.

Shedd (1987), à semelhança de Santos, também descreve quatro tipos de ofertas: a oferta queimada, a oferta de manjares, a oferta pacífica e a oferta pelo pecado e pela culpa[7]. Segundo Shedd, esta oferta (pelo pecado e pela culpa) era exigida quando um pecador quebrava a lei de Deus e tinha o seu relacionamento interrompido com o Criador.

Santos também vai afirmar que o culto do Antigo Testamento cumpriu-se em Jesus. Ele foi o cumprimento do holocausto, da oferta de manjares, da oferta pacífica e da oferta pelo pecado e pela culpa. Bem como todas as festas celebradas pelos judeus, visto ter cumprido por sua vida o perfeito sacrifico[8].

O que se pode perceber é que ao olhar para o Antigo Testamento, o Novo Testamento entende que esse culto era cristocêntrico. Se não, vejamos:

 

Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção. Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna. Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador. Porque um testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive? Por isso também o primeiro não foi consagrado sem sangue; porque, havendo Moisés anunciado a todo o povo todos os mandamentos segundo a lei, tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, lã purpúrea e hissope, e aspergiu tanto o mesmo livro como todo o povo, dizendo: Este é o sangue do testamento que Deus vos tem mandado. E semelhantemente aspergiu com sangue o tabernáculo e todos os vasos do ministério. E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão. De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem; mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes. Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus; nem também para a si mesmo se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no santuário com sangue alheio; de outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo. E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação[9]

 

O que se vê é uma cristocentricidade nas imagens e figuras do Antigo Testamento relacionadas ao culto. É assim que o Novo Testamento enxerga. Shedd afirma:

 

[...] Será vã qualquer procura de uma referência a um sacrifício aceitável a Deus, no N. T., que não esteja vitalmente ligado a esta raiz cristológica. Jesus Cristo é, ao mesmo tempo, o cumprimento da oferta queimada, uma vez que ele ‘entregou-se a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus em aroma suave’ (Ef 5.2,) e a única oferta pelo pecado do homem (cf. "o sangue aspergido", Hb 12.24). Ele se tornou a "nossa paz" (Ef 2.14-18) bem como "o dom inefável" de Deus (2 Co 9.15).[10]

 

Não é apenas o livro aos Hebreus que trata desse assunto. Paulo em suas epístolas adverte sobre a importância da centralidade de Cristo no culto cristão. Vejamos, por exemplo, 1ª Coríntios capítulo 12, versículos 1 ao 3:

 

Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo.

 

Lopes (2004), sobre esse texto pontua que:

 

Essa é a característica número um de todas as manifestações espirituais, ou seja, que o Espírito Santo, atuando na igreja por meio dos dons espirituais, sempre exalta a pessoa de Cristo. Em palavras simples, Cristo é o centro do culto prestado a Deus em Espírito e verdade. [11]

 

Ou seja, em momento algum, nada pode tirar esse foco, nem mesmo os dons espirituais, que, aliás, é sempre para a edificação da igreja, (1Co. 14.12), e nunca pode vir a ser o centro do culto.

Quando a busca pelos dons, pelas “bênçãos” e quaisquer outras coisas passam a ocupar o centro do culto, tornando-se o motivo ou a razão do crente congregar, esse culto deixa de ser para a glória de Deus e torna-se um culto antropocêntrico, onde as necessidades dos homens ganham uma conotação central. E, assim, as orações, os louvores e a pregação da Palavra se voltam para essas necessidades periféricas, parecendo apenas um culto centrado na motivação e na autoajuda. Quando na verdade, à luz das Escrituras, o que se vê é que o Espírito Santo glorifica a Cristo no culto[12].

Ora tendo em vista, portanto, que o culto tem como característica principal a cristocentricidade de Jesus, o que se pode observar é que, se se dividir o culto em dois momentos distintos – louvor e pregação – comuns na

maior parte dos grupos evangélicos, pode-se pensar como deve ser o louvor e a pregação no culto:

 

(continua...)

 

 



[1] SANTOS, Jonathan F. O Culto no AT, Sua Relevância para os Cristãos. São Paulo: Vida Nova, 1986, p. 64-104

[2] HARRIS, R. Laird. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998 p.1116

[3] Ibdem p. 854

[4] SANTOS, Jonathan F. O Culto no AT, Sua Relevância para os Cristãos. Vida Nova, 1986 p. 80.

[5] Ibdem P. 1574

[6] Levítico 4.1-6

[7] SHEDD, Russel P. Adoração Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1987. p. 201-202

[8] Ibdem. p.152-164

[9] Hebreus 9.11-28

[10] Ibdem p. 204

[11] LOPES, Augustus Nicodemus. O Culto Espiritual. Um estudo em 1 Coríntios sobre questões atuais e diretrizes bíblicas para o culto cristão. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 91

[12] Ibdem. p. 95