Julgar ou não Julgar, Eis a Questão

13/12/2012 19:10

Por Luiz Ferraz

 

Com frequência se argumenta que não devemos julgar as pessoas, pois Cristo disse “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7.1).
Há vários vocábulos gregos para a palavra “julgar”

KRIMA (substantivo)

O termo grego usado em Mateus 7.1 é ???µa krima que pode ser um decreto ou julgamento, uma condenação do erro, uma sentença decisória acerca da falta cometida por alguém. Esse termo é, portanto, um termo forense, e se refere à sentença de um juiz, à punição com a qual alguém é sentenciado, ou à sentença condenatória de um julgamento penal. Era usado para tratar de assuntos a serem decididos judicialmente, a uma ação judicial, ou a um caso na corte. Jesus usou essa palavra para se referir a um julgamento judicial e não ao julgamento moral. Jesus não está ordenando que não façamos julgamentos morais, mas que evitemos julgamentos judiciais sem a devida investigação, isto é, não devemos nos precipitar a condenar alguém, sem antes investigar a veracidade dos fatos.

KRINO (verbo)

Jesus nunca proibiu o julgamento moral, e nem mesmo o julgamento judicial. O que Ele reprovou foi o julgamento precipitado e preconceituoso dos fariseus. Por isso, no Evangelho de Lucas ele adverte os fariseus a fazerem um julgamento judicial correto: “54 Dizia também às multidões: Quando vedes subir uma nuvem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva; e assim sucede; e quando vedes soprar o vento sul dizeis; Haverá calor; e assim sucede. 56 Hipócritas, sabeis discernir a face da terra e do céu; como não sabeis então discernir este tempo? 57 E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo? 58 Quando, pois, vais com o teu adversário ao magistrado, procura fazer as pazes com ele no caminho; para que não suceda que ele te arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao meirinho, e o meirinho te lance na prisão Digo-te que não sairás dali enquanto não pagares o derradeiro lepto” (Lc 12.54-58).
Nesse texto há dois vocábulos gregos:

1) Discernir: vem do grego dokimazo. Significa testar, examinar, provar, verificar se uma coisa é genuína ou não, como metais, reconhecer como genuíno depois de exame, aprovar, julgar valioso.

2) Julgar: vem do grego krino. Refere-se tanto a um julgamento moral quanto a um julgamento judicial. Jesus reprova os dois tipos de julgamento, quando emitidos erradamente.

Krino tem o sentido de julgamento moral e pode ser separar, colocar separadamente, selecionar, escolher, aprovar, estimar, preferir, opinar, julgar, pensar, determinar, resolver, decretar.
Krino tem o sentido de julgamento judicial e pode ser julgar, pronunciar uma opinião relativa ao certo e errado, ser julgado, julgar, sujeitar à censura, disputar num sentido forense, recorrer à lei, processar judicialmente. Krino também se refere àqueles que atuam como juízes ou árbitros em assuntos da vida comum, ou emitem julgamento sobre as obras e palavras de outros. Krino se referia àqueles que presidiam com o poder de emitir decisões judiciais, porque julgar era a prerrogativa dos reis e governadores.

KRISIS

Outro vocábulo usado por Jesus é krisis. Este vocábulo pode significar julgamento concernente à justiça e injustiça, certo ou errado, opinião ou decisão, sentença de condenação, julgamento condenatório, condenação e punição, o colégio dos juízes (um tribunal de sete homens nas várias cidades da Palestina; distinto do Sinédrio, que tinha sua sede em Jerusalém, direito, justiça
Krisis é justiça e krites são aqueles que aplicam a justiça, os juízes (2Tm 4.8; Hb 12.23; Tg 4.12; At 10.42).

A Palavra de Deus é chamada de kritikos, “discernidora” (Hb 4.12), ou seja ela discerne (ou critica) com critérios. Então quem não gosta de ser criticado, não gosta de ser arguido pela Palavra de Deus.

Somos proibidos a julgar da seguinte forma:

-Precipitada: “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7.1).
-Segundo a aparência: "Não julgueis pela aparência, mas julgai segundo o reto juízo" (Jo 7.24).
-Com preconceito racial: "...julgai justamente entre o homem e seu irmão, e entre o estrangeiro que está com ele" (Dt 1.16).
-Com favorecimento: "Não discriminareis as pessoas em juízo; ouvireis assim o pequeno como o grande..." (Dt 1.17). "...Ter respeito a pessoas no julgamento não é bom." (Pv 24.23),
-E com acepção de pessoas: "MEUS irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas." (Tg 2.1).

Não encontramos na Bíblia nenhuma proibição a fazer julgamentos. As Escrituras, pelo contrário, afirmam que julgamentos são atribuições de crentes maduros: “Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para discernir (julgar) tanto o bem como o mal." (Hb 5.14).
Existe o dom de discernir (ou de julgar) os espíritos: "E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir (d?a???s?? diakrisis) os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas" (1Co 12.10). Se não podemos julgar as pessoas, como julgaríamos os espíritos que operam através das pessoas?
Somos advertidos a julgar os de dentro (os crentes) e não os de fora (os pagãos): "Pois, que me importa julgar os que estão de fora? Não julgais vós os que estão de dentro?" (1Co 5.12). "Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas?" (1Co 6.2). Paulo recomendava o julgamento, mas somente para os mais entendidos: "Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que digo." (1Co 10.15). Julgamento não é para tolos; os tolos aceitam tudo, somente os sábios julgam tudo o que ouvem: "Examinai (julgai) tudo. Retende o que é bom" (1Ts 5.21).

Alguns querendo demonstrar humildade dizem assim: Quem somos nós para julgarmos o próximo? Eu respondo: Nós somos seres racionais, criados à imagem e semelhança de Deus, com capacidade para julgar e raciocinar. Se nós não podemos julgar, quem o fará? Os animais irracionais?

 

Luiz Ferraz é pastor da Igreja Batista Vida Nova em São Paulo.

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