Culto Cristocêntrico à Luz das Escrituras (1ª Parte) - Introdução

04/06/2012 00:17

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como objetivo refletir sobre características importantes do culto, tais como cristocentricidade, racionalidade e sua organização a partir da ortodoxia e, igualmente, abordar as características da ação do adorador fora do templo, que se manifesta na justiça, na misericórdia e na fé, ou seja, na práxis religiosa. Por conseguinte, o culto cristão, possui duas características que se complementam uma à outra: a ortodoxia e a práxis.

Faz-se necessário compreender os conceitos de ortodoxia e práxis religiosa.

O primeiro deles é o conceito conhecido como ortodoxia, que está ligado ao conjunto de doutrinas religiosas consideradas legítimas (Academia Brasileira de Letras, 2008, p. 929). É o “conceito correto”. A ortodoxia pode tornar alguém culto – informado – pois se adquire no contexto religioso cristão o conceito correto da vontade de Deus, de Sua obra, do Reino e de tudo o que diz respeito à Igreja.

O segundo conceito a ser compreendido é o da práxis religiosa que está relacionado à ação. É a prática correta. A práxis, portanto, tem a ver com a ação que conduz à experiência.

À luz da Bíblia os salvos em Cristo foram criados nele para as boas obras, que por sua vez foram criadas por Deus, o Pai, para que andássemos nelas (Ef. 2.10). Ora é aqui neste ponto que fica claro para os seguidores de Cristo que a expectativa dele é que se ande na prática dessas boas obras como um ato de graça que se cumpre na vida daquele que foi eleito para a salvação, tendo nas suas ações o regozijo de cumprir tais obras, não como um ato que o torna merecedor de tal salvação, mas sim como quem compreendeu o chamado da graça e por ela vive na benfeitoria cotidiana.

Tiago, irmão do Senhor, em sua epístola pontua que “a religião verdadeira diante de Deus, o Pai, consiste na ‘prática de boas obras’” (Tg. 1.27). “O culto espiritual agradável a Deus toma forma concreta no comportamento reto e no serviço aos fracos (cf. Dt 27.19; Is 11.17; Jr 5.28 etc)” [1]. Logo, ortodoxia e práxis religiosa se fazem necessárias para o verdadeiro culto cristão.

O estudo, portanto, é relevante porque busca repensar os princípios do culto cristão a partir de uma releitura dos textos bíblicos. Para a teologia (que se propõe estudar a Revelação) ela é importante, pois pontua alguns conceitos teológicos significativos para o culto, uma vez que, cabe também ao teólogo o exercício do discernimento crítico no ambiente eclesiástico, afim de que este venha contribuir para uma melhora nos cultos que na maior parte da igreja hodierna, tem sido praticado sem critérios bíblico-teológicos.

Para os evangélicos em geral a pesquisa é um convite à reflexão, capaz de conduzir a uma introspecção e a conclusões acerca da metodologia do culto, bem como das ações cotidianas que devem permear a vida cristã. Daí que tendo como base as Escrituras e, confrontando com a realidade das igrejas de hoje, pode-se levantar as seguintes questões: como deve ser o culto da igreja? A partir do conceito de práxis religiosa, qual a importância da ação social para a comunidade e sua relação com o culto a Deus? A igreja atual à luz do significado do conceito de culto, cultua a Deus?

Ora, em termos de coletividade, a igreja que entende e pratica um culto à luz das Escrituras com todas as suas implicações tende a crescer em qualidade espiritual; em termos de individualidade, o cristão que busca glorificar a Deus em toda a sua vida e não apenas busca seus próprios interesses, tende a ser mais “humano” e por conseqüência a sociedade é beneficiada pelas ações como uma das manifestações de culto da igreja, encontrando com isso sentido para a existência desta em seu contexto.

Assim sendo, a proposta deste estudo é esclarecer como uma comunidade religiosa pode manifestar a glória de Deus através do viés da adoração no templo e fora do templo, por meio de um culto que é, ao mesmo tempo, ortodoxo e prático.

Pretendemos, no entanto, seguir a seguinte metodologia: consulta bíblica, tais como comentários bíblicos expositivos, dicionários, livros históricos, exegéticos e a Bíblia.

 Tal pesquisa facilitou perceber que há uma necessidade de coerência que deve permear os conceitos de ortodoxia e práxis religiosa no culto à luz das Escrituras. Ou seja, o presente estudo pretende abordar de uma forma ampla, porém simples os aspectos gerais da liturgia, ora no templo, ora fora do templo.

Assim sendo, faz-se necessário uma pesquisa que ofereça subsídios teóricos para uma compreensão mais ampla de tais conceitos.

É, sobretudo, a partir desse pressuposto que procuramos analisar algumas obras, entre elas o excelente trabalho de Santos (1986) que procura mostrar a cristocentricidade de Jesus nos elementos e nos rituais sagrados do Antigo Testamento. Seguindo a mesma linha sobre questões ortodoxas, Vielhauer (2005) serviu para esclarecer conceitos objetivos da cristocentricidade no louvor.

Outro importante trabalho foi a obra de Lopes (2004) que discorre sobre as questões atuais acerca do culto espiritual, onde pudemos fundamentar os conceitos acerca da centralidade cristocêntrica no culto cristão.

Não menos importante foi a pequenina obra de d’Araújo Filho (1995) que trouxe esclarecimentos fundamentais para que tais conceitos pudessem ser tratados com afinco, uma vez que se compreende que não se pode ter vida no culto, se não houver culto na vida.

Assim sendo, o presente trabalho se propõe a analisar no primeiro capítulo questões subjetivas acerca da cristocentricidade do culto apresentadas pelos escritores neotestamentários de acordo com seus pontos de vista acerca do Antigo Testamento, bem como questões objetivas que clarividência tal culto como cristocêntrico, a saber, louvor e sã doutrina.

O segundo capítulo pontua aspectos de um culto racional e organizado dentro da perspectiva bíblica de inteligibilidade e edificação da igreja enquanto Corpo de Cristo.

Já no terceiro capítulo, a proposta é mostrar a coerência que se deve ter entre a ortodoxia do culto com a práxis religiosa de tal culto. Não obstante, percebe-se que as Escrituras confrontam duramente a negligência da prática “litúrgica” em detrimento de um culto apenas ritualístico no templo. E, por isso mesmo, cabe lembrar que ortodoxia e práxis religiosa são, entrementes, fatores fundamentais para se compreender o culto à luz das Escrituras.

 


[1] Nota Bíblia de Jerusalém.